segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Lixo Existencial

Diferentemente dos demais animais, o homem é um ser pensante e enquanto ser pensante faz uma leitura própria de si e do mundo circundante. Logo, nem sempre o mundo o vê como ele mesmo se percebe ou o mundo é como ele próprio o percebe. Essa dicotomia, na grande maioria das vezes, faz com que o ser humano gere em seus pensamentos imagens destoantes, ou seja, cria imagens que fogem daquilo que ele realmente é e como resultado o que se vê são as chamadas doenças psicossomáticas.

Há muito se sabe que somos aquilo que pensamos. Que criamos em nosso espaço vital (o mundo circundante) uma imagem daquilo que acreditamos ser. Assim, se acreditamos que somos pessoas fortes, corajosas, determinantes assim será. O inverso também é verdadeiro. Acreditar que é uma pessoa fraca, sem determinação, medrosa faz da pessoa um ser fragilizado.

Acumulamos ao longo da nossa existência situações que vão, por vezes, ficando inacabadas (gestalts inacabadas); gerando dessa maneira lacunas existenciais em nosso próprio eu. O que estamos chamando aqui de lixo existencial nada mais é que as distorções na leitura do vivido, ou, se preferirem, uma distorção da realidade. Salientando que todo ser humano, em algum momento de sua vida, está sujeito a essas distorções. Até porque, em muitos casos, trata-se de um mecanismo de defesa natural à preservação do ser.

Outro dado relevante é sabermos que somos seres relacionais e como tal necessitamos uns dos outros. É como salienta Martin Buber, existe EU em busca de um TU que quando se encontram é muito mais que um simples NÓS. Buber chama a isto de Relação Dialógica EU-TU. Pessoas que se encontram e buscam-se na tentativa de se completarem, preencherem as tais lacunas existenciais. Por isso, entendemos que não há empresa sem pessoas; não há famílias sem pessoas; não há relacionamento sem pessoas, porque tudo começa e termina com pessoas. Nosso trabalho, nossas atividades, sonhos e projetos giram todos em volta de outras tantas pessoas que buscam – a seu tempo e modo – preencherem-se a partir de seus sonhos, projetos, atividades e inspirações.

Ter o cuidado em não gerar em si pensamentos negativos, propícia o cuidado na não geração desses lixos existenciais. Neste sentido, acreditamos que mentalizar pensamentos positivos e criar o hábito salutar de acreditar que tudo conspira em nosso favor evita que o organismo – para se defender – fique criando mecanismos de defesa, tais como: enxaquecas, gastrites, rinites, dermatites, enfim baixando a imunidade do organismo e criando as doenças psicossomáticas. Esses lixos existenciais são mágoas, raivas, decepções, desilusões que vão se cristalizando em nossa sombra (nosso íntimo) e nos tornando fragilizados. Carentes. É bem verdade que somos todos carentes. Carentes de atenção. Uns mais, outros menos; mas, todos necessitando de algum tipo de atenção.

Em nosso trabalho de consultoria nas empresas e nos atendimentos (individual e de grupo) em consultório temos nos deparado com vários casos de retroflexão (pessoas que voltam a sua atenção para si mesmas e auto se punem, por não acreditarem que podem escrever um capítulo diferente de sua história de vida). As que superam essas neuroses acabam se libertando – livrando-se do lixo existencial – e livrando-se das doenças que as acometiam.

Muitas vezes o remédio à cura dessas pessoas reside no ato de perdoar. Sim, perdoar. Perdoar um pai, uma mãe, um filho ou filha, um irmão ou irmã, um amigo, um parente. Enfim, simplesmente perdoar. A mágoa quando cristalizada pode gerar um câncer e impedir que a pessoa tenha uma vida saudável.

Certa feita, uma jovem com aproximadamente vinte e poucos anos já tinha se submetido a cinco cirurgias para extração de nódulos nos seios e eles sempre voltavam. Até que o seu mastologista lhe encaminhara à psicoterapia. Ao longo das sessões psicoterápicas verificou-se que esta jovem aos dozes anos precisou assumir a administração da casa (cuidar dos irmãos, da limpeza e organização da casa) enquanto seu pai trabalhava. Sua mãe residia em outro estado, também trabalhava e não podia acompanhar o marido e os filhos. A família estava, aos poucos, se desestruturando. Impedida de vivenciar sua infância e adolescência, esta jovem chegou à fase adulta com uma imensa mágoa do seu pai. Quando reconheceu (e admitiu) esta verdade e passou a perdoar o seu pai os nódulos começaram a regredir (diluir). Seu lixo existencial começou a ser reciclado.

Em tempos de responsabilidade social é salutar falarmos em reciclagem. Nosso lixo existencial também pode ser reciclado a partir do momento que se admite que precisamos de ajuda (e muitas vezes, ajuda psicoterapêutica).

Sugerimos aqui algumas atividades que podem ser o começo de uma nova trajetória:

I. Experimente todos os dias dá bom dia para o dia – isto pode lhe proporcionar uma energia positiva ao longo do dia;

II. Evitar reclamar da vida – antes, agradeça aos céus a oportunidade que o universo lhe concede de um novo dia de aprendizado;

III. Por mais difícil que as coisas lhe pareçam pense positivamente – nada é tão ruim que não possa melhorar; creia, você é filho(a) de Deus. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, por isso somos mais que vencedores;

IV. Mentalize e repita várias vezes ao longo do dia: eu (...diga o seu nome...) sou filho(a) de Deus e em minha vida só acontece coisas boas; vivo em paz, com amor, alegria e muita prosperidade. Obrigado(a) Senhor!




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Salatiel Soares Diniz – Pernambucano, nascido em 21 de novembro de 1968, na cidade de Paulista. Graduou-se em Psicologia Clínica na Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (FACHO -1994). Fez especialização em Arteterapia pela Clínica Pomar – RJ; Psicólogo Perito de Trânsito pela UPE/DETRAN-PE; Gestão de Talentos e Desenvolvimento de Pessoas pela Faculdade Luso-Brasileira (FALUB – Carpina); graduando em Licenciatura em Computação pela UFRPE/UAB (Pólo Carpina, sistema EAD). Psicólogo e Instrutor de Informática na Ação Paroquial de Assistência (APA – Carpina/PE). Professor de Cidadania no Colégio Santa Joana (Carpina/PE). Professor de Psicologia Organizacional e Fundamentos e Processos em Recursos Humanos no Curso Técnico em RH pela Faculdade Joaquim Nabuco (Recife/PE) e atual administrador da Clínica de Psicologia Dom Bosco .


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